segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Depoimento

Amigos, este é mais depoimento enviado para compartilhamento com todos vocês!
“Prezado autor Egidio Trambaiolli Neto, eu tenho acompanhado suas postagens no seu blog e resolvi também dar o meu depoimento, pois eu e minha família acabamos virando seus fãs.
Eu nunca havia pensado em trabalhar o senso responsável com a minha filha. A modernidade, sempre traz elementos que nos levam a negligenciar atitudes que são fundamentais para a formação do caráter.
Minha filha sempre foi mal acostumada por mim e pelo meu marido. Tivemos uma gravidez complicada e morríamos de medo de perdê-la, esse medo se estendeu por muito tempo além do nascimento, por essa razão, nós a mimamos demais. Fazíamos tudo para ela e não lhe atribuíamos responsabilidade alguma. Nós não queríamos que ela tivesse qualquer problema, qualquer dificuldade, qualquer responsabilidade. Não a obrigávamos a guardar seus brinquedos, não dizíamos “não” quando ela rabiscava as paredes, não a deixávamos, sequer, calçar os seus sapatos. Nós a tratávamos como a uma princesa e ainda mais, nós a enchíamos de mimos, tinha as roupas de todas as princesas da Disney, e, obviamente, também não lhe impúnhamos limites e obrigações. Tínhamos uma empregada que era mais babá do que qualquer outra coisa e, por nossa determinação, impúnhamos que todos os desejos de nossa filha fossem realizados.
No começo do ano passado eu adoeci severamente, peguei hepatite e acabei sendo obrigada a me afastar do meu consultório dentário, dois meses depois, meu marido perdeu o emprego porque havia faltado muito para me levar aos médicos e iniciamos um período de dificuldades, pois estávamos acomodados com o luxo e às atitudes perdulárias. Nosso orçamento despencou, fomos obrigados a abrir mão de nossa empregada e perdemos o plano de saúde por falta de pagamento. Por causa da minha doença eu não podia ficar em pé por muito tempo e o meu marido, começou a viver uma maratona de entrevistas e tentativas de trabalho. Pelo menos a escola entendeu nosso drama e nos cedeu uma bolsa para a nossa filha até o final do ano.
Foram dias de angustia, sofrimento e a necessidade de uma cirurgia que levou nossas reservas e obrigou o meu marido a se sujeitar a trabalhar nas vias informais, para pelo menos não passarmos fome e não deixarmos de pagar o nosso apartamento. O consultório e carro foram vendidos, assim como as minhas joias. Foi terrível!
Para completar, minha filha, mal acostumada como era, não aceitava aquela situação e transformou a nossa vida em um inferno! Meu apartamento ficou de pernas para o ar, muitas vezes, ela se recusava até em pegar meus medicamentos, me ofendia, dizia que eu era imprestável, que a culpa daquela situação era minha e que não queria ser pobre. Era impossível viver daquela maneira! O sofrimento físico, emocional e irracional me deprimia. Meu marido por sua vez chegava tarde em casa e ainda cuidava dos afazeres domésticos, mas ele também estava no limite, até que um dia perdeu a paciência com as pirraças de nossa filha e começou a se impor, atribuindo a ela várias funções como lavar a louça do almoço, arrumar as camas, recolher as roupas para serem lavadas. No começo, ela chegou a jogar pratos e copos no chão para afrontar o pai, mas ele se manteve em seus princípios e não só a fez limpar o que havia feito de errado, como manteve suas obrigações.
Os dois estavam em constantes conflitos, ela chamava o pai de cavalo e a mim de preguiçosa. Certo dia ela recebeu uma amiga da escola para fazer uma tarefa em casa e eu ouvi a minha filha dizendo que ela fazia as coisas obrigadas porque éramos muito ruins, mas que ela nos enganava quando dava. Disse ainda que mentia para o pai, que não arrumava a própria cama porque ninguém mandava nela. Para completar, dizia que tinha vontade de fugir de casa.
Aquelas palavras pareciam facas penetrando no meu coração combalido, senti uma vontade imensa de gritar, mas chorei em silêncio.
Para minha surpresa, a amiga de minha filha esbravejou:
- Você está louca? Você não arruma a sua cama? Eu arrumo a minha!
Minha filha ficou parada vendo a amiga abrir a mochila e de lá, prezado autor, retirar o seu livro, A Cama do Buraco Negro.
- Você não conhece a história da Juliana? A menina que não arrumava a cama?
Eu só vi a minha filha balançar a cabeça dizendo não com o gesto.
- Tome, eu já li, amanhã você me devolve, tenho que entregar na biblioteca.
Durante a noite do dia seguinte eu ouvi a minha filha perguntando:
- Pai, os ratos sobem no sétimo andar?
E o pai respondeu que sim sem muito entender.
- E as baratas?
- Também! No sábado mesmo eu matei uma lá na lavanderia.
Da minha cama eu vi minha filha mexendo na cama dela, retirando o cobertor, o lençol, a fronha... Ela fazia isso com muito cuidado, parecia preocupada. De repente ela levou tudo para lavar, fazendo o meu marido se surpreender com o que via.
Quando ela terminou de arrumar sua própria cama ela foi ao meu quarto, me abraçou e disse:
- Mãe, desculpa! Eu não sabia que a sua doença podia vir com os ratos e baratas!
Meu marido se aproximou, encostou no batente da porta do nosso quarto e viu nossa filha transformada.
- E li o livro da Cama do Buraco Negro e fiquei com medo que os ratos e as baratas fossem parar na minha cama. A prô falou que esses bichos podem ter causado a tua doença. Não é culpa sua que você ficou assim! Foram eles que fizeram a gente ficar pobre.
Era a primeira vez que eu via a minha filha se preocupar com a família. Não era mais “eu”, éramos “nós”! Graças ao poder de um livro!
Eu continuo me tratando, agora, com a ajuda de minha filha, as coisas estão se acertando, já realizo até alguns trabalhos pela internet que me ajudam a pagar algumas contas. O meu marido, inclusive, conseguiu um emprego melhor e mais próximo e tudo isso está trazendo mais união à minha família.
Obrigado Professor Egidio, que Deus continue iluminando a sua mente para que sempre possamos desfrutar de sua criatividade e do bem que você nos faz!”

Nota: Os nomes das pessoas foram omitidos no texto para não se expor a identidade dos protagonistas deste depoimento.


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